Estatisticas, mentiras e meias verdades
A Estatística é uma técnica de indiscutível utilidade. Mas tem o poder de conceder foros de verdade a afirmações falsas. Na última semana tive uma prova dessa afirmação. Costumo pela manhã, quando me dirijo ao trabalho, escutar a programação de certa rádio FM que entremeia notícias e comentários de jornalistas sobre assuntos variados.
ECONOMIA INTERNACIONAL
Eduardo Paiva
2/18/20252 min read


Num desses dias um comentarista que trata sobre clima e aquecimento global fazia a sua matinal alocução. Nessas suas alocuções diárias ele não cansa de alertar aos ouvintes sobre os perigos que todos nós corremos se o aquecimento do planeta não for detido de modo que a temperatura suba no máximo um grau e meio lá pelos anos 2050. Para tanto repete sobre a necessidade de se ratificar o acordo de Paris, firmado numa convenção mundial ocorrida na capital francesa e que renovou os compromissos sobre a redução de gases de efeito estufa que fora negociado no chamado Protocolo de Quioto e que então caducar.
O jornalista em questão, um ecologista militante preocupado com os destinos do nosso planeta, também costuma mostrar que, apesar de tudo, a humanidade parecer ir, de alguma forma, trilhando o bom caminho que a livrará de uma elevação na sua temperatura com consequências aterradoras para o nosso planeta. Uma das esperanças para se evitar a elevação da temperatura da terra, e o consequente colapso do mundo, seria a ampliação na geração e no uso das chamadas energias renováveis, nomeadamente a solar e a eólica, também conhecidas como energias limpas em contraposição àquelas gerada a partir de fontes fosseis.
O jornalista sempre deixa claro que as energias de fontes fosseis poderiam, e até mesmo deveriam, serem substituídas por energia renováveis. Tal mudança poderia ser realizada quase que de imediato – a energia necessária ao mundo viria exclusivamente dessas fontes renováveis. Com prova dessa possibilidade ele costuma mostrar exemplos. No seu último programa ele deu como exemplo a Alemanha. Nesse país, segundo ele, 30% da energia utilizada já estava sendo gerada a partir de fontes renováveis, com destaque para a fonte solar. A Alemanha era,portanto, um exemplo para o mundo.
Embora tivesse ciência que a Alemanha vinha incentivando a geração de energia de fontes renováveis, fiquei intrigado com os números pois desconhecia a extensão desse uso, sobretudo tendo em conta que sol não é algo que abunda naquelas latitudes. Decidi que mais tarde tentaria confirmar essa informação.
Não precisei consultar o International Energy Agency para elucidar aquela informação que tanto me intrigara. A The Economist na sua edição August 13th 2016 publicou uma matéria intitulada “Renewable energy. It’s not easy being green” e nela se informava que 30% da geração de eletricidade na Alemanha estava sendo provida por fontes renováveis. Eletricidade, naquele país, todavia representava segunda a revista, tão somente 21% do total da energia consumida. Logo a contribuição das fontes renováveis para a geração de energia era de somente 6,3% [30% de 21%] e não de 30% como dizia o jornalista ecologista no seu programa. A confusão, proposital ou não, entre geração de energia e geração de eletricidade levou a esse entendimento errado. A Economist informa, nessa matéria, que os consumidores alemães pagam anualmente, nas suas contas, um adicional de US$ 22 bilhões, ou R$ 70,4 bilhões, considerando o câmbio de R$ 3,20 por US$. Essa última informação não foi também mencionada, por desconhecimento ou de forma proposital.
